2024 foi um ano intenso. Qualquer coisa entre janeiro e novembro parece que aconteceu antes da pandemia, e que todo mundo precisou dobrar a dose de cafeína, surfar burnoutinhos e torcer pra chegar vivo. Tanto que o balanço de fim de ano do Tipo Aquilo teve que esperar 2025 pra acontecer, porque até dezembro este que vos redige estava fazendo uma penca de coisas ao mesmo tempo.
(e eu ainda estou, para o desespero das inimigas)
Como os mais longevos dessa freguesia sabem, a última edição do ano é dedicada ao momento tipográfico… o hit feito de letras que pegou o mundo em cheio por algum motivo. Só que 2024 foi um ano meio fraco nesse sentido. Talvez as IA's generativas tenham uma parcela de culpa nisso; não por elas trabalharem mal com texto, mas sim porque ficou fácil para as pessoas tirarem do texto a função de comunicar com precisão. A surra de eventos acontecendo o tempo todo em todo canto também fez ficar difícil determinar apenas um momento em que a tipografia se sobressaísse como um meme ou algo significativo.
O que não quer dizer que não temos algo…

A capa do álbum “Brat”, da Charli XCX, é o que ficou mais próximo de um meme tipográfico, reproduzido de uma penca de formas diferentes não só pela Internet em si, mas pela própria Charli. O estilo de falso pixelado/estourado com Arial Narrow num fundo verde-limão, desenvolvido ao longo de cinco meses por Brent David Freaney, foi remixado de tantas formas, com tantas conotações, que pintou a vida online de verde e facilmente é o momento tipográfico de 2024.
Eu sei que vocês conseguem pensar em um monte de capas de álbum mais bonitas, mais transudas, mais qualquer-coisa do que essa. Pra mim, ela representa um cansaço da nostalgia. Nos últimos anos, um monte de artistas revisitaram o século passado e até os anos 2000 em suas músicas, clipes e artes de álbum, buscando a beleza perdida dessas décadas. A Charli, por sua vez, não teve vergonha de abraçar o “feio”, o esquisito, o não-polido contemporâneo, e meter o verde-limão (e, depois, o branco) por aí. Poucas coisas são tão brat quanto isso. Até o próprio conceito de brat teve seus remixes, com as pessoas descobrindo-se brats em algum ponto. Até a então candidata à presidência dos EUA Kamala Harris foi tida como brat.
(e não sou eu quem vai te explicar o que é “brat”, pergunte ao seu entendedor de cultura pop mais próximo)
Pra 2025, fica uma promessa: eu vou falar um pouco do David Lynch. Ele está aqui nesta edição mais como uma homenagem póstuma do que como um meme de 2024. Contudo, não se engane quanto a isso: os letterings característicos da série, em Avant Garde Condensed com borda verde, aparecem com recorrência nos últimos anos, conforme a própria série e toda a filmografia do diretor surgem em listas de discussão e feeds por aí como eventos bem localizados de distorção da realidade. Lynch não tinha uma relação tão íntima com alguma fonte como outros diretores, mas ele é um ótimo ponto de partida para falar sobre a presença de texto em cena e o quanto ela afeta a própria percepção e sensação do espectador.
Lynch sustentava que “As palavras mudam a forma com que você percebe o que está acontecendo na cena. E são um ótimo contra-peso para outras coisas acontecendo.” Essa frase é um ponto de partida sensacional para muita coisa sobre design, escrita, audio-visual e um monte de coisas mais, mas vai ficar pro tempo certo. Por enquanto, guardemos como uma singela homenagem, e/ou um sinal de que as coisas só fazem sentido quando esse lettering aparece e exclui a necessidade das coisas fazerem sentido.
Agora, vamos para o Embrulhadão 2024 do Tipo Aquilo, o meu momento de egotrip, falta de modéstia e agradecimentos sinceros. 2024 foi um dos anos mais produtivos para a newsletter, com o maior crescimento de assinantes deste periódico. De 604 assinantes no fim de 2023, passamos para quase 1800 agora. Se esse número fosse meta, talvez eu tenha atingido e dobrado, mas nunca foi de verdade. Juntando os posts regulares, os TA.calt e os Letra Aberta, foram 26 edições, 37.208 palavras, 231.412 caracteres e mais de 1200 novos assinantes que me fizeram feliz demais ao longo do ano. Esse crescimento não é sozinho… a rede de newsletters de design vem ajudando a fazer todos crescerem, com a
Os números absolutos mostram um crescimento na produção dessa newsletter, e quero manter esse ritmo… ainda mais com uma centésima edição vindo (e eu não faço ideia de um bom tema pra esse evento). Pra manter esse ritmo, eu preciso parar por um tempinho, até março, pra terminar várias coisas pendentes, descansar um pouco e pensar nas pautas deste ano, na minha foundry em gestação, e de como o Tipo Aquilo ficará alinhado nesse contexto. Já tem texto deste semestre escrito, mas tudo precisa do tempo certo.
Até lá, vocês podem conferir minha entrevista para o Rodrigo Ghedin, do Manual do Usuário, em que eu conto um pouco de como isso surgiu e como cada edição acontece no seu tempo. Ainda sobre a troca de cartas entre newsletters, vale a pena conferir o texto do
no sobre Linguagem Simples, em resposta à minha edição sobre o tema. De fato, foi um dos temas que eu mais gostei de ter escrito, e a carta do Júnior me deu a mesma alegria.Linguagem Simples, Machado de Assis, rodovias, Garamont, Globo, greves de tipógrafos… eu não sei dizer sobre qual desses assuntos eu mais fiquei satisfeito em ter escrito. A edição sobre Ziraldo é, de longe, a mais “popular” em likes e compartilhamentos, e colocou o Tipo Aquilo no radar de muita gente legal que eu sequer tenho roupa para estar perto. Ainda há mais para se falar sobre Ziraldo, e eu pretendo fazer isso nesse ano, junto com mais histórias, mais didática, mais personagens e mais letras bonitas.
No mais, muito obrigado novamente, e nos vemos em março dessa vez, só em março mesmo, dsclp galera. (=
Recomendações
🎥 Vídeo: brat but it's a graphic design analysis, (em inglês) uma análise do design gráfico do álbum de Charli XCX por Linus Bowman.
🔗 Link: Brat Generator, um gerador de memes baseado no lettering do álbum “Brat”, da Charli XCX.
🇧🇷 Fonte brazuca: Corax, de Júlia Lago.
Escrito em 102053.995
ansioso pelos comentários sobre david lynch
Bom demais ver gente boa crescendo!