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Para os mais longevos, vocês conhecem a tradição do momento tipográfico do ano, aquele que as letras fazem parte de um momento significativo. É uma oportunidade, também, para compartilhar algumas conquistas desta (cada vez menos, mas ainda) humilde newsletter, divagar em algumas impressões ao longo do ano e avisar que este escritor aqui precisa de um tempo para descansar e respirar novos ares. Pelo menos, até o fim de fevereiro. Eu vou pensar em algumas coisas pra não deixar a poeira acumulando, mas isso é assunto pro Cadu do ano que vem.
Não é novidade pra vocês que o Twitter foi minha rede social favorita até a aquisição pelo Space Karen. Até a tipografia virar um assunto mais sério da minha vida, era o nascedouro perfeito dos memes. Depois, tornou-se também um ponto de contato com foundries, type designers, pesquisadores, instituições dedicadas às letras e outras pessoas do Brasil e do mundo todo que eu admiro, e que compartilham ativamente novidades e conteúdo interessante. Parte disso ainda está acontecendo, mas seria muito melhor sem a série de mudanças implmentadas a fórceps pra sucateá-la aos poucos e virar um palco de marcas, políticos e jornalistas coexistindo com fascistinhas de avatar de anime.
Essa mudança do Twitter para X coincide com um cansaço generalizado de redes sociais. Muita gente entendia essas plataformas como um meio de estar conectado com os amigos; e estes têm sido os primeiros a abandonar o barco. Quem busca ficar de olho em quem produz conteúdo relevante vai aguentando o parquinho do Kiko do Tesla enquanto o burnout não chega. Todo mundo diz que o X é supostamente o começo de um projeto de um super app, nos moldes do WeChat; contudo, é crescente o receio de que o X durará apenas o bastante para bagunçar as próximas eleições nos EUA. Assim, o Momento Tipográfico deste ano é a foto do desmanche da fachada do Twitter sendo interrompida pela polícia de San Francisco faltando apenas as letras er. Que é o melhor comentário para cada besteira colossal feita pelo Musk: êêêêêêêêrrrr!
É impossível não falar desse ano sem apontar um ser vivo que não fale da inteligência artificial como o grande bolo de cenoura com cobertura de ganache dessa década. Eu podia estar roubando, podia estar falando dos montes de pôsteres de supostos filmes da Pixar, ou das ilusões de óptica com sombra e luz formando letras, ou daquele pin assistente pessoal movido a IA, mas está interessante ver como, aos poucos, os softwares de geração de imagens estão começando a acertar detalhes e soltar composições com detalhes mais precisos e certeiros. Os dedos das mãos estão, aos poucos, ficando mais anatomicamente corretos, e as composições tipográficas estão melhorando a ponto de permitir experimentos de criação de fontes por IA, como as do Pablo Impallari e do Sergey Tselovalnikov.
Não que isso signifique que o mundo precisará de menos type designers no futuro próximo. Apenas prevejo para o ano que vem alguma reportagem pouco embasada falando do “primeiro alfabeto criado por IA”. Sobre as polêmias de IA e autoralidade, o
, dissecou bem essa questão do uso inevitável de IA em obras e no dia-a-dia. Meu incômodo real com IA, no momento, diz respeito apenas ao brutal consumo de energia dessa tecnologia e falta de uma previsão certa para quando ela será minimamente sustentável.Passados os ranços, vamos falar de coisas boas deste ano. A que me deixa mais feliz foi a palava do Tipo Aquilo chegar até a Revista Recorte, com um texto tão importante para nossa geração de designers quanto prazeroso de escrever e pesquisar. Deixo aqui meus agradecimentos à Flora de Carvalho, Dominique, Duda e todos que mantêm a Recorte de pé como um espaço de reflexão sobre design e sociedade.
O reconhecimento também veio com a edição sobre Cristina de Pisano e caligrafia medieval recebendo o Prêmio Typeóca, gentilmente cedido pelo querido Gabriel Figueiredo, um grande designer de tipos e melhor nomeador de categorias de prêmios. De fato, é um dos textos que eu mais gostei de ter escrito neste ano, e devo comentar mais sobre os textos de 2023 e alguns desdobramentos deles numa futura edição.
Agora, vamos para o Embrulhadão 2023 do Tipo Aquilo, o meu momento de egotrip, falta de modéstia e agradecimentos sinceros. 2023 marcou o maior crescimento de assinantes deste periódico, chegando a 604 assinantes, um aumento de 105%. É uma pena que eu não tenha número de assinantes como meta, assim eu perco piadas sobre atingir e dobrar metas. Juntando os posts regulares e os TA.calt, foram 16 edições, 20.941 palavras, 128.900 caracteres e 309 novos assinantes que me fizeram feliz demais ao longo do ano. Ter mais gente lendo, aprendendo (e também ensinando) e em sintonia com este que vos fala é super gratificante. É o que me empolga para seguir ano após ano.
Falando sobre metas, uma que eu tinha estabelecido para este ano foi ser mais regular e fazer ter uma edição nova a cada quinzena. A liberdade de escrever em diferentes formatos no TA.calt me ajudou bastante neste objetivo, fazendo ser possível ter quase duas edições por mês, e os subcadernos me deixaram satisfeito, de forma geral. O Vamos Falar de Fonte chegou a três edições, e para o ano que vem, alguns vão se repetir, e talvez apareçam alguns formatos novos. A depender do tempo e disponibilidade deste que vos escreve. Por ora, a única meta para o ano que vem é ser mais pontual com as publicações e manter o compromisso de contar boas histórias. O Tipo Aquilo é algo que eu faço pelo particular prazer de escrever, aprender e divulgar um assunto que eu gosto.
No mais, muito obrigado novamente, e nos vemos em março ou talvez mais cedo. (=
Recomendações
🎧 Podcast: Tecnocracia #77, com Guilherme Felitti discorrendo sobre o presente e futuro das IA’s para o trabalho humano.
🎥 Vídeo: Can AI art create beautiful typography?, (em inglês) um experimento da Codex Community em geração de letras com softwares de geração de imagens.
🔗 Link: BDA – Prêmio Brasileiro de Design 2023, a lista dos vencedores de cada categoria do BDA deste ano, com diversos projetos de tipografia entre os selecionados.
🇧🇷 Fonte brazuca: Triz, de Gabriel Figueiredo.
Escrito em 100966.43
obrigado pela lembrança! :)