O primeiro designer de tipos do Brasil
O primeiro designer de tipos do Brasil
Aquela frase do escritor francês Jean Cocteau, "não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez"*, aplica-se bem à primeira edição dessa newsletter. Como brasileiros, normalmente nos vemos como coadjuvantes na história do mundo, mas, às vezes, a gente faz umas coisas bem grandiosas.
(*pessoalmente, prefiro as paródias dessa frase, mas isso fica pra outra hora)
Em 1500, a prensa de Gutenberg já tinha 50 anos de história. No ano em que o Brasil foi descoberto, cerca de 220 oficinas tipográficas espalhavam-se pela Europa e produziram, até aquele ano, 8 milhões de livros. No entanto, o primeiro registro comprovado de uma oficina tipográfica no país data de quase 250 anos mais tarde, do tipógrafo português Antônio Isidoro da Fonseca em 1747. Ignoremos que ela foi fechada no mesmo ano por decreto real, e com isso a primeira oficina tipográfica brasileira autorizada pela coroa foi instalada em 1808.
Se o país tem um atraso de mais de 300 anos na prática da tipografia, não demorou muito para que tivéssemos o nosso primeiro type designer: em 28 de maio de 1821, João Francisco Madureira, aos 24 anos, encaminhou um requerimento para o governo da província do Grão-Pará, a fim de exercer do ofício de tipógrafo. O que realmente chama a atenção nessa história é que, segundo Madureira, ele mesmo abriu punções, montou os aparelhos de sua oficina e imprimiu o requerimento com tipos que ele mesmo moldou e fundiu.
Embora as letras que abriu tenham vários problemas de desenho e impressão, o requerimento é uma amostra dos primeiros tipos desenhados em solo brasileiro. A história de João Francisco Madureira e seu requerimento podem ser vistos no artigo "O engenhoso pioneiro da tipografia da Província do Grão-Pará", de Fernanda Martins, Edna Cunha Lima e Guilherme Cunha Lima, como parte da pesquisa de doutorado da Fernanda. Trata-se de um marco importante para a tipografia brasileira e uma reflexão interessante sobre o quanto é possível aprender de tipografia ou outras tecnologias por conta própria, observando os recursos de cada época.
Com essa história, inauguro enfim a newsletter. A ideia é trazer, quinzenalmente, alguma história ou reflexão interessante para contar rapidamente, além de recomendações para mais conteúdo. (=
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🇧🇷 Fonte brazuca: Gigio, de Ana Laydner.
Escrito em 96650.53.